Aliados do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes expressaram profundo incômodo com o tom adotado pelo ministro Alexandre de Moraes durante o depoimento do general da reserva ao Supremo Tribunal Federal (STF). Freire Gomes prestou esclarecimentos à Primeira Turma da Corte, no processo que apura uma suposta tentativa de golpe articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo militares próximos, o comportamento do ministro, que chegou a acusar o general de mentir durante o depoimento, foi considerado um “constrangimento desnecessário”. Para os colegas de farda, o ex-comandante já se desgasta o suficiente por testemunhar contra outros oficiais. “Não é natural ver um comandante do Exército, uma figura tão respeitada, tomando uma enquadrada de um ministro do STF”, afirmou um general à revista VEJA.
O general prestou depoimento na condição de testemunha de acusação e confirmou a realização de reuniões com o então presidente, nas quais foram discutidas hipóteses como decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e estado de sítio, além da polêmica proposta de prisão de Alexandre de Moraes. Freire Gomes, contudo, minimizou a gravidade das discussões, classificando as ideias como “estudos” e “hipóteses” fundamentadas na Constituição. Ele negou qualquer tentativa de influência por parte de Bolsonaro, e afirmou que não viu anormalidade nas propostas.
Moraes reage com irritação e faz alerta durante sessão
Diante da postura considerada evasiva, o ministro Moraes interrompeu o depoimento visivelmente irritado e advertiu o militar:
“Eu vou dar uma chance à testemunha falar a verdade. Se mentiu à polícia, tem que dizer que mentiu à polícia. Não pode no STF dizer que não lembra, que talvez. A testemunha foi comandante do Exército. Consequentemente, está preparado a lidar sob pressão. Eu solicito que, antes de responder, pense bem.”
O general respondeu que, com 50 anos de carreira militar, jamais mentiria. A declaração reforçou a tensão da audiência, com aliados interpretando a atitude do ministro como um gesto de desrespeito à hierarquia e à honra militar.
Defesa nega contradições e fala em interpretações distintas
Segundo o advogado de Freire Gomes, João Marco Rezende, não houve divergência entre o que foi dito à Polícia Federal e o depoimento no STF. Ele explicou que a diferença pode ser atribuída a “interpretações distintas de fatos complexos”:
“O general manteve o que foi dito à Polícia Federal. Mas aí vem a questão de divergências em termos de interpretação, o que é natural em qualquer processo criminal.”
Críticas de militares à condução do inquérito
Nos bastidores, membros das Forças Armadas reclamam de uma suposta perseguição institucional e da tentativa de generalizar condutas individuais, o que acabaria por macular a imagem da instituição como um todo. Mais de uma dezena de militares são investigados, com indícios de envolvimento nas articulações golpistas.