No dia 29 de julho passado, foi publicada uma opinião de Maurício Tolmasquin, ex-presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE) e ex-diretor da Petrobras, pondo em dúvida a viabilidade dos projetos de produção do hidrogênio verde no Brasil, o Ceará e o Piauí estão no meio. Tolmasquin, um especialista em energia, disse:
“Sem compradores dispostos a pagar mais, o hidrogênio verde não decola. Este é o ponto central trazido pelo setor privado. Muitos dos potenciais consumidores — siderúrgicas, indústrias químicas, transportadoras — ainda não têm modelos de negócio que absorvam um insumo mais caro, mesmo com menor pegada de carbono.”
A contestação veio imediatamente por meio de longa exposição do engenheiro Adão Linhares, também especialista no tema, tendo contribuído decisivamente para o sucesso dos projetos de geração de energia eólica no país, no Ceará também. Linhares lembrou que, quando surgiu a ideia da geração eólica, Tolmasquin manifestou-se contra. Adão Linhares disse à coluna:
“A análise comparativa entre as resistências enfrentadas pela energia eólica e as críticas atuais ao hidrogênio verde revela um paradoxo fundamental na forma como o setor energético avalia tecnologias emergentes. Este paradoxo é exemplificado de forma particularmente clara na trajetória intelectual de Maurício Tolmasquim, que passou de reconhecer o “exponencial aproveitamento da energia eólica” como uma referência internacional para aplicar ao hidrogênio verde os mesmos argumentos céticos que foram utilizados contra a energia eólica durante seu período de desenvolvimento.
“A documentação histórica apresentada neste trabalho demonstra que as críticas ao hidrogênio verde reproduzem, com notável precisão, os argumentos utilizados contra a energia eólica entre 2000 e 2013. A preocupação com custos elevados, falta de infraestrutura, ausência de marcos regulatórios completos, inexistência de demanda estabelecida e questões de timing competitivo caracterizaram tanto a resistência à energia eólica quanto as críticas atuais ao hidrogênio verde.”
Pois bem, ontem, o economista Marcos Holanda – ex-presidente do Banco do Nordeste, que pensa como Maurício Tolmasquin a respeito da viabilidade dos projetos de produção do hidrogênio verde na geografia do Complexo Industrial e Portuário do Pecém — transmitiu sua opinião a respeito dos longos e sólidos argumentos de Adão Linhares a favor do H2V no Brasil. Eis o que Holanda escreveu:
“Li só a metade (do que escreveu Linhares) pois está maior do que uma tese de doutorado! Mas destaco alguns pontos:
“1- Vento é fonte de energia; hidrogênio, não. É apenas uma maneira cara e perigosa de transportar energia do vento ou do sol.
“2- Ganhos de escala da energia eólica e da energia solar dificilmente vão repetir-se no hidrogênio
“3- Subsídio inicial na eólica foi em grande parte pago pelos consumidores de energia tradicional no Brasil. Quem vai pagar o do Hidrogênio?
“5 – Governos do mundo todo estão com problemas de dívida pública e sem condições de ofertar grandes subsídios
“6 – No mundo real, o desejo da energia verde está dando lugar à energia barata e segura.
“7 – Uma notícia da semana passada: a Fortescue cancelou projetos de H2V na Austrália e nos Estados Unidos, mesmo já tendo anunciado decisão final de investimento. Aqui vai ser diferente, quando nem ainda assinamos a decisão final de investimento?”
São três opiniões a respeito do mesmo tema. Uma, otimista, apostando tudo na viabilidade econômica, técnica, financeira e logística dos projetos de produção do hidrogênio verde; duas em sentido contrário.