Faz uma semana que 22 milhões de brasileiros foram proibidos de acessar a rede social X. Não é apenas que a plataforma tenha sido bloqueada por ordem judicial. A sentença do ministro Alexandre de Moraes, do STF, também submeteu qualquer cidadão que a visite, usando recursos tecnológicos como uma VPN, ao risco de ser castigado com a pesada multa de 50 mil reais. Quem defende a decisão diz que a culpa é de Elon Musk, o bilionário dono do X, notoriamente simpático a populistas de direita como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Musk desafiou a justiça brasileira, negando-se não apenas a retirar de circulação conteúdos e perfis apontados como “perigosos para a democracia”, mas também a nomear um representante local da plataforma, como pedem as leis nacionais. Com isso, teria tornado inevitável a medida drástica do bloqueio. Nenhum país pode deixar passar em branco o descumprimento de ordens judiciais. Se a moda pega, instala-se o caos. O problema dessa argumentação é que ela resume um filme de longa-metragem a uns poucos fotogramas. Nessa redução, perde-se de vista algo essencial: há mais de cinco anos, teve início um processo de concentração de poderes nas mãos, sim, de Alexandre de Moraes, mas com absoluto respaldo de seus colegas de toga. Nesse período, o STF teve mais de uma oportunidade para interromper a escalada, ou ao menos moderá-la. Sempre optou por legitimar as escolhas de Moraes, fazendo de conta, em alguns momentos, que o absurdo é trivial. Chegou-se agora ao ponto em que se busca normalizar a interferência nos direitos e no cotidiano de milhões de usuários do X, tratados como meras vítimas colaterais de uma guerra santa em nome da democracia. Segundo a revista Crusoé na reportagem de capa, assinada por Carlos Graieb e Wilson Lima.