O ex-ministro da Economia Pedro Malan costumava dizer que no Brasil até o passado é incerto.
Jair Bolsonaro (PL) foi condenado a 27 anos de prisão por liderar uma tentativa de golpe de Estado no país. Um dia depois, não tem analista sério capaz de cravar que a sentença liquidou politicamente o ex-presidente.
A conversão do presidente Lula (PT), preso em 2018 e eleito para um terceiro mandato quatro anos depois, é a maior sombra sobre qualquer cenário político hoje de médio prazo.
O voto isolado de Luiz Fux em um julgamento que terminou 4 a 1 em favor da condenação dos réu na Primeira Turma do Supremo deu pano para as mangas de uma confecção inteira da temporada primavera/verão bolsonarista. Tanto jurídica quanto politicamente.
Em suma, Bolsonaro dobrou politicamente,
Os advogados dos réus usarão o discurso de 12 horas do ministro para embasar o que disseram nas alegações finais e tirar os clientes da alçada da Primeira Turma.
Enquanto isso, cortes da leitura já são usados na disputa política para ilustrar a narrativa (furada) segundo a qual Bolsonaro estaria hoje livre se no caminho não estivessem tantos ministros indicados à Corte pelos governos petistas, como Flávio Dino, ex-ministro da Justiça de Lula, e Cristiano Zanin, ex-advogado do presidente. (Por ironia, Alexandre de Moraes é uma indicação da safra Michel Temer).
Bolsonaro e companhia não serão presos agora.
As defesas vão esticar o período de recursos o quanto puderem. E, quanto mais perto das eleições de 2026, melhor para eles. Estamos a menos de um ano da disputa.
Em prisão domiciliar preventiva, Bolsonaro acompanha com atenção e interesse próprio, a mobilização dos apoiadores no Congresso pela aprovação da anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Ela pode alcançar ou não o ex-presidente. Mas já é um fator de desgaste para a base governista, desfalcada de dois dois maiores partidos do Centrão (o Progressistas e o União Brasil) e refém de uma negociação que envolve o projeto de Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil – um troféu que Lula pretende usar na disputa presidencial do ano que vem.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já foi avisado de que o Centrão só vai abraçar a causa se a anistia for colocada em votação (se for, será uma lavada, já que Bolsonaro controla hoje cerca de 300 dos 513 votos da Câmara).