A vida do juiz que falsificou documentos

Justiça

Se um homossexual pode mudar de nome, saindo de João para Maria, por que o Eduardo não pode? Ele estudou., se formou e exerceu como advogado, fez concursos passou… Virou juiz…

Enfim, cabe analisar bem direitinho.

Eduardo nasceu numa cidade pequena do interior de São Paulo. O cartório de Águas da Prata registrou, em 1958, José Eduardo Franco dos Reis. Mas parece que o filho de José e Vitalina cresceu achando que merecia mais do que aquele nome podia oferecer.

A investigação aponta que, com imaginação e um documento falso, ele inventou que era descendente da aristocracia britânica e passou a se chamar por um nome pomposo, como o de um lorde inglês: Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield.

A polícia afirma que Eduardo construiu uma vida de mentiras. E como Edward – discreto, articulado, convincente – enganou instituições, colegas e o Estado, que lhe deu cargo, salário e poder. Edward tirou vários documentos em órgãos oficiais usando uma identidade falsa, se aproveitando de uma época em que tudo era manual e não havia controles rígidos. Como descendente de ingleses, ele estudou Direito na USP. Depois prestou concurso e, em 1995, se tornou juiz. Durante anos, Edward assinou sentenças, comandou audiências, deu ordens em nome da justiça. E ninguém — em nenhuma instância — percebeu que o homem por trás da toga era uma fraude. Agora, se discute se as decisões que ele assinou podem ser contestadas.

Juízes que conviveram com ele dizem nos bastidores que Eduardo ajustou até o tom da própria voz pra se passar por Edward. Falava português com um pouco de sotaque britânico. Ele se aposentou em 2018, depois de 23 anos na magistratura.

Como a fraude foi descoberta

A história dessa biografia escrita às margens da lei parecia que terminaria impune. Mas a denúncia do Ministério Público afirma que ele cometeu um deslize alguns anos depois. Foi em outubro do ano passado, em São Paulo, que Eduardo e Edward se encontraram pela primeira vez — pelo menos, oficialmente. Ele foi ao Poupatempo para tirar uma nova carteira de identidade com o nome inglês. Mas, ao fazer o pedido, apresentou uma certidão de nascimento com o número de registro do nome verdadeiro. Ficou no sistema: duas pessoas com a mesma digital.

O alerta foi dado pelo setor antifraude do Instituto de Identificação, que travou a emissão de qualquer novo documento. Quando o juiz voltou ao Poupatempo para buscar a segunda via do RG, descobriu que, antes disso, precisaria procurar a polícia. Quando chegou ao Instituto de Identificação da Polícia Civil, foi avisado de que seria ouvido na investigação sobre uso de documentação falsa.

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