Durante seminário na Escola Superior de Defesa, oficial da Força Aérea e presidente da AIAB explicou que o Brasil aumentou gradualmente sua vulnerabilidade e que o atual momento pode ser um “divisor de águas” para o setor.
O coronel da reserva da Força Aérea e presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais Brasileiras (AIAB), Júlio Shidara, afirmou nesta segunda-feira que o Brasil vive uma “dependência crítica” de infraestrutura espacial estrangeira, e alertou que o País precisa rapidamente investir de forma consistente em tecnologia nacional para garantir sua soberania.
Em 24 de junho, durante sua participação no painel “Mercado Espacial” do 1º Seminário de Segurança, Desenvolvimento e Defesa no Ambiente Espacial, realizado na Escola Superior de Defesa, Shidara afirmou que “nós vivemos um momento que pode representar um divisor de águas pro futuro do programa espacial brasileiro”.
Segundo o oficial, “o Brasil não tem autonomia tecnológica” em nenhuma das áreas de aplicação espacial, com exceção da observação da Terra com sensores ópticos, e mesmo assim ainda não domina tecnologias mais avançadas, como radar SAR e multiespectrais. Shidara destacou que diversas atividades cotidianas dependem de satélites, inclusive o sistema de energia. “Inclusive o nosso grid elétrico”.
GPS como “utilitário invisível”, questão estratégica
Shidara apresentou exemplos da imprensa norte-americana que tratam o tema como questão estratégica, afirmando que nos EUA “os veículos de comunicação de uma forma geral dão tratamento direto pra poder manter a população informada a respeito da criticidade, do quanto estratégico é a infraestrutura espacial pros interesses dos Estados Unidos”.
Ele citou reportagens como a da Bloomberg, revelando que “de um total de 16 sistemas de infraestruturas críticas dos Estados Unidos, 14 deles dependem do sinal de tempo de GPS para funcionarem” e outra do The New York Times sobre o mesmo tema.
O coronel rebateu a ideia de que a dependência seria apenas militar, para uso de militares da Marinha do Brasil, Exército e Força Aérea Brasileira: “Para aquele que imaginava que esses sistemas que dependem são de uso majoritário ou dedicado para as Forças Armadas, ele se engana, porque a maior parte dessas infraestruturas que deixariam de funcionar adequadamente num caso de problema com o GPS são sistemas do nosso dia a dia”.
Em sua exposição, o especialista mostrou um mapa com dados atualizados de interferência ativa em sinais de GPS, afirmando que “é relativamente fácil você causar interferência porque é um sinal fraco”. E alertou que, no Brasil, embora não haja registros semelhantes, o risco é real. “Se acontecesse interferência ativa no Brasil em regiões críticas pro grid elétrico, teríamos apagões localizados. Isso chamaria a atenção das nossas autoridades com relação a essa dependência crítica que nós também temos aqui no Brasil”.