O anúncio do presidente Donald Trump sobre nova tarifa de 50% para os produtos brasileiros provocou um clima de incerteza na economia brasileira. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, responsáveis por cerca de 12% do total que é vendido ao mundo.
No ano passado, as exportações brasileiras atingiram US$ 337 bilhões, sendo US$ 40,33 bilhões para os norte-americanos. A China, o principal parceiro brasileiro, por exemplo, ficou com 28% das exportações no mesmo período. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado ao mercado americano foram criados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil.
Caso não haja acordo ou recuo, as novas taxas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto, e o Brasil terá a alíquota mais alta entre os países notificados pelo presidente dos EUA neste mês.

“Embora improvável, esse cenário extremo ampliaria os danos, com perdas estimadas de 1% a 2% no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no curto prazo”, afirma Fabricio Tonegutti, diretor-executivo da Mix Fiscal Inteligência Tributária.
A medida anunciada por Trump, segundo ele, justificada como retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e a um suposto déficit comercial, afeta diretamente setores-chave da economia brasileira, como café, soja, aço e carnes.
“Apesar de os dados oficiais mostrarem que os EUA têm um superávit comercial com o Brasil de cerca de US$ 7,4 bilhões em bens no ano anterior, essa decisão pode reduzir as exportações brasileiras para os EUA em até 20% a 30%, impactando um volume anual de US$ 30 a US$ 40 bilhões”, acrescenta.
Para Tonegutti, se o Brasil cortasse todos os laços comerciais com os EUA – violando acordos da OMC (Organização Mundial do Comércio) e exigindo uma ruptura diplomática –, o impacto seria um choque imediato de oferta e demanda.
“Isso poderia elevar os preços de café nos EUA em 5-10% devido à escassez, enquanto o Brasil perderia de US$ 5 bilhões a RS$ 10 bilhões em receitas anuais. No entanto, especialistas como o Goldman Sachs estimam que o golpe no PIB seria de até 0,4-1%, com maior volatilidade no câmbio e desequilíbrios no balanço de pagamentos”, avalia. Veja análise do especialista abaixo.
Desafios
Em um rompimento total, Tonegutti destaca que pequenas e médias empresas – como exportadoras de calçados ou frutas – arriscam falências ou demissões em massa, com estimativas de 100 mil a 200 mil empregos perdidos no agronegócio.
O governo Lula veria uma redução na arrecadação de impostos, como royalties e IPI, em US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões anuais, além de um déficit maior na balança comercial (que teve superávit de US$ 80 bilhões em 2024), prevê o especialista. “Isso forçaria cortes em gastos ou subsídios para setores afetados.”
Se o comércio parasse, o real poderia depreciar em 5% a 10%, elevando a dívida externa e exigindo juros mais altos do Banco Central para controlar a inflação. Positivamente, isso aceleraria alianças com o Brics, reduzindo a dependência do dólar e investindo em infraestrutura via programas como o PAC. O risco de recessão seria real, subtraindo 0,4% a 1% do PIB.
Efeitos no bolso
Os brasileiros sentiriam os efeitos de forma indireta, com desigualdades regionais – o Sul e o Centro-Oeste, dependentes do agronegócio, seriam os mais atingidos. A perda de 100-300 mil empregos poderia elevar o desemprego em 0,5-1 ponto percentual, reduzindo a renda média em 2-5% nessas áreas.
Itens importados dos EUA, como eletrônicos e remédios, ficariam mais caros, adicionando 0,5-1 ponto percentual à inflação e afetando o custo de vida. Por outro lado, produtos locais como café poderiam baratear com a sobre oferta interna. O governo poderia expandir programas sociais, como o Bolsa Família, para amortecer o impacto, mas com pressão fiscal.
Em um cenário de ruptura total, esses efeitos se intensificariam, mas a diversificação para novos mercados poderia criar empregos a longo prazo, beneficiando a população com um crescimento mais sustentável.
Perspectivas
Embora a cessação total do comércio seja improvável – devido aos custos mútuos e à pressão internacional –, o foco deve estar em negociações diplomáticas e fortalecimento de parcerias com o Brics.
“O Brasil tem ferramentas para mitigar os danos, emergindo mais resiliente, mas o custo inicial para empresas e famílias será inevitável. Ficar de olho nas respostas do governo e nas negociações na OMC será crucial nos próximos meses”, conclui Tonegutti.
Maior risco
Julio Amorim, CEO da Great Group, afirma que o impacto imediato seria um abalo na balança comercial e na confiança externa, mas o maior risco não estaria na exportação ou no câmbio — estaria no colapso silencioso do planejamento estratégico das empresas que dependem do mercado americano para validar sua competitividade global.
“O país perderia um ‘termômetro’ crítico de inovação e eficiência, deixando de ser pressionado a evoluir em qualidade e tecnologia. O real se ajustaria, o agro se reinventaria, mas as cadeias produtivas viveriam uma crise de identidade”, avalia Amorim, que também é especialista em gestão empresarial e governança corporativa.